Jackson Pollok: E a tela foi ao chão

3.10.12


Neste momento a fumaça do cigarro subia por sua face, os olhos franzidos abertos e brilhantes observavam atentamente o desenho que a tinta percorria no ar até deitar-se na tela. Os raios de sol que adentravam as janelas daquele antigo celeiro atravessavam a fumaça e a poeira até ser refletida nos pigmentos ainda úmidos da tinta, iluminando um ambiente sagrado onde a pintura se unia à dança e esta com a religião dos antigos índios americanos. Neste ambiente pintava Jackson Pollock.
O estilo de pintura que criou pouco tempo depois do final da 2ª Guerra Mundial é chamado de action painting (pintura de ação), pois os movimentos de todo seu corpo definiam a forma como a tinta seria aplicada na tela e ao mesmo tempo Jackson renunciou ao cavalete e pintava seus quadros no chão, pois desta maneira conseguia ataca-los pelos quatro cantos como os índios que viviam no Sudoeste dos Estados Unidos pintavam com pigmentos a areia no chão.
Ao observar de cima Pollock entrava na tela, conseguia ignorar a separação que existe entre quadro e pintor e criar mundos de profundidade absurda que engolem qualquer um que se atreva a parar em frente a um de seus imensos quadros e deixar-se meditar. Linhas se sobrepõem umas as outras, cores surgem das profundezas e teias de tinta produzem um efeito tridimensional que revela uma harmonia infinita somente vista nos fractais e seu loop infinito.
Para alcançar tamanha beleza em suas telas ele precisou lutar durante a vida inteira com o alcoolismo, que no ano de 1956 conseguiu derrota-lo, ao ser o motivo principal do acidente fatal de carro no qual se envolveu a pouco mais de 1 km de casa. Sua vida criativa só deslanchou após o casamento com Lee Krasner em 1945, quando seus pensamentos sobre arte e vida se encontraram e criaram uma entidade artística que foi a primeira celebridade americana a vir das artes plásticas.
A celebridade fez muito mal ao Pollock, no auge dela em 55 até sua morte em 56 nenhum quadro foi produzido, com pensamentos confusos sobre estar se vendendo e medo de não pintar somente aquilo que agradava à classe média endinheirada americana do pós-guerra. Ao estancar a força criativa, precisou curar a dor interna que isto causa e a solução próxima e conhecida foi o álcool.
Seus momentos finais de vida foram atribulados, em meio a brigas com Lee Krasner, um relacionamento destrutivo com uma amante e a aversão à sua própria popularidade o Jackson Pollock que surgiu era apenas uma sombra daquela força criadora que definiu o rumo da arte contemporânea após a 2ª Guerra. Gordo, barbudo e bêbado se tornou apenas mais um cara chato que começa a filosofar nos bares do alto de sua sabedoria etílica.
O que sobreviveu desta vida breve, 44 anos, e intensa foram obras gigantes que desafiam a explicação de como chegou à complexidade microscópica para harmonizar suas telas misturando toques do zen budismo com a Teoria do Caos e a devoção indígena ao espírito da terra americana. Um gênio, um inovador, um cowboy que agarrou com as unhas o cavalo selvagem da arte, o domou e o levou para desbravar o Oeste Selvagem da criação.

Trecho do filme Pollock 1951, sobre seu processo de criação e que mostra ele pintando:

Texto e arte: Juliano Rocha
julianorocha@gmail.com

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